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Anos de tortura

  • Mariana Leal Rios
  • 10 de dez. de 2017
  • 5 min de leitura

"12 anos de tortura, até que enfim a formatura."

Esse foi o lema que minha turma da escola escolheu no 3º ano, e para mim isso fez muito sentido. Eu sofri o famoso bullying durante grande parte desse tempo, até hoje chamo a escola onde estudei de "Auschwitz". Batizei com esse nome por causa do inferno que era passar naquele lugar todos os dias, eu ia porque era obrigada. Eu gostava de estudar, de verdade, mas por algum motivo meus colegas achavam que era legal ficar zoando da minha cara. Desde pequena eu fui tímida e dizem que essas pessoas adoravam mexer comigo porque eu era quietinha e não me posicionava quando faziam "brincadeiras" comigo. Faz sentido, talvez se eu tivesse reagido as coisas tivessem sido diferentes. Mas não reagi e então, foram longos anos de tortura...

Eu fiz o jardim e a pré-escola na cidade T. porém meus pais tiveram que se mudar e fomos para a cidade C, lá eu fiz a 1ª, 2ª e 3ª série. Nessa época foi tudo maravilhoso, eu gostava de ir para a escola, eu tinha amigos, e até hoje tenho memórias boas desse tempo. Ficamos morando nessa cidade por apenas três anos, pois acabou que tivemos que voltar para a cidade antiga, e foi nessa volta que tudo começou. Quando voltei para a escola da cidade T. me falaram que eu tive "sorte" porque iria estudar com as mesmas pessoas que fizeram a pré-escola comigo, eu já conhecia todos eles. No primeiro dia de aula uma menina, a D. veio falar comigo e me perguntou se eu sabia quem era ela. Tímida como era eu respondi que sim, mas não me lembrava dela porcaria nenhuma. Então ela apontou para a parede, onde ficavam fichas com o nome de todos os alunos e pediu para eu apontar o nome dela. Eu errei e ela ficou furiosa comigo, digo que foi aí que assinei meu contrato de ida para o inferno. Depois desse dia tudo mudou completamente, tanto as meninas como os meninos me olhavam de uma forma estranha, era como se eu tivesse alguma anormalidade em mim e eles achassem muito engraçado. O tempo foi passando e eu fui fazendo algumas "amizades" mas elas nunca foram verdadeiras, quando podiam me fazer de boba, me trapacear, jogar a culpa em mim, me jogar contra os outros, elas faziam. Você pode se perguntar "mas porque tu continuava a andar com essas pessoas?", e eu digo, se não andasse com elas eu não teria ninguém. E ficar sozinha não ia me ajudar em nada, pois eu seria chamada de metida ou estranha, e iriam ficar zoando de mim do mesmo jeito. Então preferi ficar com essas pessoas e aguentar tudo, todos os dias, só pra fingir que eu tinha amigos e que era uma pessoa "normal". Podia ter contado o que sofria para os meus pais ou para a direção da escola, mas eu tinha medo, medo de que as pessoas soubessem e começassem a mexer ainda mais comigo, e também porque me falaram que se eu contasse para alguém eu iria "me ver com elas". E eu entendi isso perfeitamente já que sempre na hora do recreio, minas "amigas" gostavam de brincar de pega-pega, só que elas só pegavam a mim e aproveitavam para me beliscar, me dar uns tapas e uns ponta-pés. Voltei para casa várias vezes com alguns roxos nos braços e pernas, mas sempre dizia para meus pais que eu tinha me batido enquanto brincava. Não tinham porque duvidar, eu era criança fazia sentido eu me machucar e sempre fingi muito bem que estava tudo ótimo comigo. No início é difícil fingir já que a dor é insuportável e você só quer chorar e tentar entender porque tudo aquilo está acontecendo, o que tem de errado contigo, o que você fez para merecer tudo aquilo, porque as pessoas te odeiam, só que depois de um tempo você se acostuma com aquela dor que vive em ti todos os dias. E então você escolhe conviver com ela ou dar um jeito e fazer tudo ir embora. Sempre acreditei que tudo iria passar, que um dia essas pessoas iriam parar de mexer comigo e tudo iria voltar ao normal. Mas nunca passava e então um dia eu resolvi não ir para o recreio e me tranquei no banheiro, você até pode rir disso, mas para mim ao mesmo tempo que era solitário e triste eu me sentia bem. Só que os professores descobriram e eu tive que voltar para o pátio, e por incrível que pareça as pessoas pararam de me bater, me xingar, me zoar. Elas me olhavam com uma cara de que "não entenderam" o motivo de eu ter feito aquilo, e por um tempo elas me deixaram em paz... até que veio a adolescência.

Momento confuso essa tal de adolescência, é tudo ao extremo, tantas coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo e você tentando se encontrar neste lugar chamado mundo. Eu nunca fui como as outras garotas, nunca gostei de coisas que são ditas "femininas", não me sentia interessada em namoros... eu era apenas eu. Hoje eu sei que a sociedade é uma merda machista e tenta estereotipar tudo, mas na época da minha adolescência eu via as outras garotas e me achava tão diferente, tinha certeza de que tinha alguma coisa errada comigo. As colegas que andavam comigo tinham conversas tão fúteis, tão idiotas, que aos poucos eu fui deixando de falar e ficava apenas dentro da minha cabeça. Mas elas perceberam e começaram a fazer piadas sobre mim, quase voltaram a me bater só que dessa vez eu reagi e dei um tapa na cara de uma delas. Ficou meus dedos em seu rosto e ela foi chorando contar para a diretora, mas não senti medo dela ter ido lá. Várias pessoas viram o que fiz e desistiram de querer interagir comigo de forma bruta, e eu fiquei feliz comigo mesmo. Por causa disso eu assinei o livro negro pela primeira vez, mas valeu a pena. Me arrependo mesmo é de não ter tomado essa atitude antes, pois quando elas pararam de mexer comigo um estrago enorme já estava feito e que até hoje traz consequências.

Nos últimos anos da escola parece que todo mundo tinha decidido que zoar comigo não tinha mais graça, então eu fique no meu canto, sem falar com muitas pessoas, nem olhar muito para elas já que eu tinha medo que elas se lembrassem de mim e tudo voltasse. Mas a escola acabou e eu me vi livre de todos aqueles humanos que foram imprestáveis na minha vida, na verdade eles até que foram útil em alguma coisa, eles me mostraram o quanto o ser humano e a sociedade podem ser cruéis com você.

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